segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Epílogo de uma noite mal dormida

Quem diria que eu iria voltar a escrever nesse blog.
Quando comecei ele lá em 2008 eu era um pirralho, menino pentelho, que só queria comentar o que vi na internet ou fiz no final de semana.

Postei links, fotos, falei de mim, da vida, desse mundo que muda a cada dia.
Virou um espaço de reflexões. Já pensei no azar, no amor, na minha cidade, na arquitetura, na família.

Eu mudei, esse blog mudou, a internet mudou.
Hoje não postaria novamente as fotos constrangedoras de 3 anos atrás.
Hoje não iria novamente aos mesmos lugares de 3 anos atrás.
Hoje mal escrevo no blog, como fazia há 3 anos atrás.

Hoje não tenho tempo. Ou digo que não o tenho.
Na verdade, por vezes falta tesão de parar pra pensar.
É tudo tão rápido. Na velocidade de um tuíte. Não há lugar mais pra textos com grandes reflexões.

Tive uma noite daquelas. Daquele tipo que você pede ajuda pra sua farmácia particular pra conseguir dormir.
Mas não consegui.
O tempo não passou.

Remoí um pouco da minha vida, um pouco desses últimos anos.
Tô na pior?
Não
Apenas estou no limbo de uma mudança.
Já tive outras, mas essa está um pouco mais doída.

No domingo fui caminhar com uma amiga. Caminhadas são mais que andar em círculos, para mim são horas de colocar as ideias no lugar.

Já tomei decisões difíceis, decisões erradas. O mais importante é saber perceber e não ter vergonha de voltar atrás.

Quando estava no Carmo, lá na década de 90, tinha toda minha vida traçada. Cada passo planejado.
Foi uma cilada!

Não dá pra planejar todas as decisões da sua vida.
Ela é cheia de esquinas e você não sabe o que tem quando dobra à direita ou esquerda.

Talvez minha primeira grande decepção foi receber uma bolada na Educação Física em 1998
(Ah, não, isso foi uma grande dor, não uma decepção)
Me decepcionei quando descobri que não amava inglês e que a matemática não me amava.
Me decepcionei quando cheguei em um novo dia de aula e o cachorro quente já não custava mais 1 real.
Me decepcionei quando não passei no Coluni
(Só viçosenses sabem o que é isso)
Me decepcionei quando eu passei no Coluni
(Sim, foi contraditório)

Quando entrei naquele colégio encontrei muitas esquinas pra virar, e nunca sabia o que tinha depois.
Não pude controlar o caminho.

Sai do Coluni para ser jornalista.
Me tornei Arquiteto.

Na verdade não me tornei, isso vai levar algumas horas ainda.

Mas eu quero chegar em um ponto.

Entre o final de 2005 e o início das minhas aulas em maio de 2006 eu tive muito tempo pra pensar.
Muito tempo pra planejar a minha graduação.
Planejei cada disciplina que eu faria.
Cada lugar que eu iria frequentar.
Cada estágio que iria fazer.
Cada amigo que eu faria.
Cada passo.

Planejei quem eu seria!

Cometi o mesmo erro de 8 anos antes!

Queria ser quem eu não era.
Me tornar um novo Luiz.
Da noite pro dia.
Queria aproveitar a guinada do ensino-médio para a graduação para fazer mudanças.

Mas a gente não muda sozinho.
A gente não muda da noite para o dia.
Só nós podemos nos mudar, mas não é por magia ou numa batida de sapatos que isso irá acontecer.

Quebrei a cara!

Forcei ser quem eu não era, até perceber que aquilo não era bom.
Eu não estava feliz.
Coloquei a culpa na Arquitetura.
Quis largar a Arquitetura.

Mas por mais que minha cabeça mandasse, meu coração já era daquele curso.
Não apenas queria aquele título, mas queria fazer parte daquilo.
Ter aqueles amigos.
Ser UFV - ARQ 2006.

Resolvi então apenas andar devagar.
Já que não poderia controlar o que tinha depois das esquinas, que eu não fosse tão afoito.
Que eu descobrisse o caminho aos poucos.

E que poucos.
Esses últimos anos, muitos últimos anos, pareceram uma eternidade.
Lembro do dia de 2006 que virei fazendo projeto.
O único da minha vida.

Lembro do dia em que quebrei azulejos na aula de plástica.
Lembro do aperto no coração por ter repetido cálculo pela primeira vez e da decepção pessoal que foi.
Lembro da alegria de 2,5 anos depois ter visto que eu passei.
Lembro do Vicente da Mecânica, do Tibiriçá do Comportamento Ambiental.

Hoje percebo que ninguém coloca pedras nos nossos caminhos.
Elas já estão lá!
Como transpô-las é uma decisão nossa, e quando fazemos por nossos próprios meios, muito mais vitoriosa é a conquista.

Lembro do final de 2008, quando resolvi viver a UFV, esquecer os planos, quebrar os retrovisores e seguir caminho sem se preocupar com o que tinha atrás ou o que vinha na frente, porque eu não estava sozinho.

Eu não estava sozinho!

E juntos, achei muitos juntos.
Encontrei amigos.

Amigos que me mostraram que me mostraram que os caminhos não são lineares, que eu posso virar muitas esquinas, basta olhar envolta.

Fui pra festas que nunca pensei em ir, passei madrugadas na biblioteca estudando, me meti em áreas que nem imaginava.
Fui Corel, fui Patrimônio, fui Viçosa e fui Rio Doce.
Fui Tetu e fui UFV.
Fui dinheiro e fui doação.
Fui meus chefes e fui meus amigos estagiários.
Fui a máquina de café da Diálogo.
Fui o Arquivo da Secretaria de Cultura.
Fui um janeiro chuvoso no setor de Projetos da UFV.
Fui a Creche da Paróquia.
Fui ABC.
Fui Nicoloco.
Fui Nenhum de Nós.
Fui Cervejadas e três formaturas!
Fui muitos ônibus.
Fui longas caminhadas da OMC para o PVA.
Fui Blog, fui Orkut, fui Twitter, fui Facebook.
Fui minha monografia.
Fui logotipos inúteis.
Fui o cara que dormia às 4h da manhã.
Sou o cara que dorme 9h da noite.

Não fui, eu sou.
Eu sou tudo isso!

Sou cada experiência que tive.
Cada amigo que encontrei.
Cada caco de cara quebrada.
Cada degrau que subi.
Cada quilo que engordei.
Sou os professores que me inspiram.
Sou o cara idiota que ri sozinho na internet.
O cara sério que pensa demais.
Muito demais.

Não estou pronto.
Nunca estarei.
Não sou quem eu pensava ser em maio de 2006.
Muito menos eu sou quem esperava ser em 1998.
Sou incerteza.

Acho que nunca serei algo, sempre vou continuar a mudar.
Afinal, eu mudei.
E não percebi isso.

Mudei de um menino miúdo que fazia palhaçadas no DAU, para alguém que pensa duas vezes antes de fazê-lo.
Talvez devesse pensar 3x.

Nessa época de final de ano, final de período, final de universidade, são muitas reflexões.
Muitas noites mal dormidas.
Muitas noites como hoje.

Agora são 7h da manhã e percebo que meu maior medo não é a banca final de mais tarde, mas sim o que ela representa.
Um aperto de mão.
Assim, só isso.

Um amontoado de coisas, fatos, mudanças, amigos, vida, um Luiz diferente, com um título.
Um título?

Isso que vai fechar a minha caixa de amigos, família, UFV, experiências?
Isso não tem a capacidade de fechar a minha caixa!

Não quero empacotar tudo e colocar na estante.
Quero continuar enche-la até que transborde!
E quando ela transbordar não vou trocar de caixa.
Quero que ela encha mais, que rasgue, que envelheça.

Mudei sim, mas sou o Luiz do passado, apenas com um punhado de mudanças.
Quero lembrar de onde vim, mesmo que ria ou fique sem graça.
O Luiz de hoje não é o mesmo, não posso encarar com esses olhos.

O Luiz de hoje não sabe onde vai.
Mas sabe tentar mais e errar mais.

Não quero sair da banca apenas com um título.
2029 dias depois quero sair sabendo que minha maior conquista não foi apenas um título, mas a grande experiência de vida que eu tive.

Se vou ser um grande, pequeno ou não ser arquiteto e urbanista, isso não sei agora.
Não sei o que tem depois da esquina.
Mas sei por onde eu passei.

Meus 2029 dias de UFV foram os melhores de minha vida e vou repetir pra quem quiser ouvir.
Isso ninguém me tira: As experiências que a gente não conta, mas carrega nos olhos.

Um comentário:

Robb' disse...

Ah, menino Luiz...
Quanta coisa vai acontecendo em nossas vidas, né?
Num momento você é aquele adolescente afoito, cheio de ideias, querendo abraçar o mundo com as pernas e planejando toda a sua vida numa planilha do Excel pelos próximos 20 anos.
E depois, descobre que não só fez isso errado, como fez muito errado!
Todos mudam.
Todos descobrem muitos "eus" dentro de si mesmos a cada instante.
Talvez a faculdade seja o melhor lugar pra isso acontecer. E, inevitavelmente, quanto mais tempo você passa dentro dela, mais você muda. Disso nós entendemos muito bem.
Nunca imaginei que esse dia fosse chegar! Ou melhor, não imaginava que ele chegaria pra você antes de chegar pra mim. Porque era assim que estava traçado. Era assim que deveria ser. Mas quem disse que os caminhos que a gente escolhe são lineares?
E é isso mesmo. São escolhas. Nossas. Talvez elas reflitam a nossa maturidade. Ou a falta dela. E, se escolhemos errado, deve ser porque ainda precisamos mudar.
Não acho que a faculdade nos deixará prontos para a vida, como seres perfeitos que só fazem coisas certas. Mas enquanto ela acontece, temos a chance de testar esses novos "eus" que vamos encontrando, pra ver qual deles nos agrada. Nem mais nem menos, mas na medida certa.
Mais abandonado que o seu blog está o meu. Mas saber que tinhas postado algo aqui sobre esse último suspiro de UFV foi o suficiente pra me fazer logar e vir ler o que você tinha a dizer.
Porque é isso que amigos fazem. Eles te dão força quando precisa, te dão puxão de orelha quando necessário, comemoram com você quando o motivo é especial.
Não participei da sua jornada na UFV desde o início, mas acompanhei as etapas que vieram a partir de 2008. A parte mais penosa, eu acho.
Ri, xinguei, dei pitaco nos teus trabalhos, falei sobre estágios, TETU, assuntos pessoais e familiares, fiz Corel, Cad, Sket...
E fico muito feliz ao ver que você conseguiu!
O mérito é todo seu. Afinal, como você mesmo disse, o gosto de uma conquista dessas é sempre melhor quando você sabe que foi o maior responsável para que ela acontecesse.
Queria muito poder assistir à Banca e comemorar o resultado dela com você. Mas infelizmente a TDUD? reuniu leitores espalhados por todo o país, geralmente de lugares muito distantes de onde você mora.
Nesse caso, me resta torcer. Tenho certeza de que será sucesso!
Assim como tudo o que você fizer daqui pra frente. Seja como arquiteto, jornalista, prefeito de Viçosa ou escritor.
Sei que você mergulha em cada coisa que faz, ainda que não tenha a certeza se é aquilo mesmo que deseja fazer.
Seja qual for o caminho, estarei aqui pra você me contar o que encontrará depois de cada nova esquina.

Boa sorte na Banca!!
Abraço!