segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Praça de quem?

Quando estava escrevendo minha monografia eu pesquisei um pouco sobre praças.
Não sobre praças de maneira física, apenas, mas sobre praça no sentido histórico e social.

A praça foi uma das primeiras estruturas urbanas a surgir, quase de forma natural.
Era um logradouro de reunião, de passagem, de encontro.

Lembram-se das aulas de história, da ágora grega ou do fórum romano?
É de lá que a praça atual assumiu suas principais características.

Assumiu caráter simbólico e estruturador.
As cidades começaram a crescer em volta das principais praças.
Muitas tem uma praça como o marco inicial de urbanização.

O entendimento do que é praça varia de acordo com o período histórico e com a cultura local.
Hoje a praça são largos, passeios públicos, arborizados ou não, que propiciam a convivência e o lazer.

Quanto mais praças a cidade tem, mais oportunidades de reunião é dada as pessoas daquele lugar.

Os urbanistas e políticos assumiram a praça como elemento estruturador da malha urbana, local valorizado para comércio e lugar propício a instalação de equipamentos públicos, por serem logradouros focais do espaço urbano.

No Brasil, historicamente, as praças são vinculadas as igrejas. São extensões de seus adros.
Com o surgimento de novas cidades passaram a receber os prédios públicos.
Era o símbolo do poder do Estado e da Igreja. Era o centro da vida social do lugar.


Praça Silviano Brandão 1916 - Chamada de Passeio Público

A praça, como espaço de convivência, acompanhou as mudanças da sociedade.
No princípio eram locais ajardinados, com canteiros de flores, lagos, árvores frondosas.
Remetiam as praças amplamente difundidas na europa até o século XVIII.

As prefeituras tinhas cuidados especiais pelas praças centrais de suas cidades.
Era a cara do lugar.
Local de passei no domingo.
De arrumar namorada.
De levar as crianças para brincar.
De celebrações religiosas.

Ao andar pelas cidades pequenas ainda hoje os coretos.
Ícones de uma época em que as bandas de músicas se apresentavam.
No meio da praça, no meio da cidade, havia um palco livre para apresentações musicais.

Por volta de 1945 a Praça Silviano brandão sofre sua primeira grande reforma e perde o coreto

Na nossa memória as praças ainda são lugares ajardinados destinados ao passeio, descanso e convivência.
Mais tarde surgiram as praças secas, destinadas a aglomeração de pessoas e manifestações públicas.

As antigas praças verdes são reformadas para se modernizarem, receberem mais gente.
Mais calçamento.
Talvez perde-se o coreto.
Ganha-se algum monumento.

No meio do século XX se valorizava a simplicidade, mudança dos tempos.

Apesar de todas mudanças a praça ainda era o foco. Os serviços públicos ainda se desenvolviam por ali. A igreja ainda tinha seu destaque no logradouro.

Em 1967 a praça se torna retrato da nova Viçosa, um asterisco na História

As cidades crescem.
Novas praças surgem, ou não.
O fato é que a praça principal vai perdendo seu caráter aglutinador.

Sem grandes atrativos as pessoas não vão mais a praça por lazer.
Os serviços públicos começam a deixar a área, pois crescem e os imóveis ali existentes não mais os comportam.

A praça se torna um lugar de passagem.
Perde-se a praça e ganha-se a rua.

E falando em rua, com o boom automobilístico da segunda metade do século XX, grandes pedaços das praças viram estacionamentos e vias.
Essa é uma característica observada nas cidades mais diferentes do país.

Na década de 1980 a praça foi novamente reformada, recuperou o coreto, porém nunca foi realmente assumida de volta pela população.

O centro da cidade não é mais sua praça central e sim a concentração comercial.
Às vezes confluem, as vezes não.

As igrejas não se instalam em praças mais. Os prédios públicos também não.
As praças só respiram no horário comercial.
Perdeu seu caráter bucólico.
Ganhou um pouco de insegurança.
Perdeu em estética.
Ganhou em circulação.

Não se para mais nas praças.
Não são mais símbolos da cidade.
Não são mais a principal preocupação da prefeitura.

As manifestações culturais diminuíram.
As religiosas são mais raras.

O coreto não tem mais música, tem moradores de rua.
As árvores não fazem sombra, são esconderijos.
Os monumentos não se destacam, a arquitetura não se destaca, o povo não se destaca.

A praça tem se tornado um vazio urbano.
Ela ainda exerce seu papel social?

Quando eu digo papel social me refiro ao seu caráter singular e não a exploração comercial do espaço que toma o lugar dos pedestres.
Não ao abrigo de crianças que ficam pelas ruas sem auxílio.
Não me refiro ao ponto de prostituição e ao uso de drogas.

A praça é apenas o vulto do que foi. Zumbi da cidade a procura de atenção. Ignorada.

A praça deixou de ser um lugar de aglutinação para ser um local de dispersor.
Falar que você vai à praça hoje pode não ser boa coisa.

A praça não é só o núcleo do logradouro, mas todo seu entorno: comércio, igreja, serviços, vias.
Em tempos de grandes mudanças sociais a praça deve mudar, mas com a sociedade.

Não adianta reformar o espaço se não usa-se um desfibrilador social para reanimar o coração da cidade.
Reformar por reformar é manter viva numa maca.

p.s: Qualquer semelhança com uma certa praça de Viçosa não é mera coincidência.
(Fotos: acervo Tony Mello, blog O Passado Compassado de Viçosa, o autor)

upload: lembro de quando ficava na praça depois da missa, dos meus balões de gás hélio, dos sorvetes, dos sacos de pipoca, das compras de Natal, das feiras, das Semanas Santas, da Festa de Santa Rita, das apresentações do coral, do anfiteatro do Arthur Bernardes, do coreto sem cheio de urina, do hibisco rosa, dos bancos de madeira, do lago de carpas, do palco que era rampa de skate... Sou velho? O que aconteceu nos últimos 15 anos?

Um comentário:

Mônica Bento disse...

Quantas memórias vc fez vir à tona rsrsrs Deslizar na rampa da praça era ótimo. E tb ir andar de bicicleta depois da missa! Sair do cinema e zanzar por ali era uma ótima combinação. O tempo + as pessoas não fizeram bem pra Silviano Brandão, definitivamente.